Deve ser horrivel ter um filho desaparecido, deixo aqui um texto da mãe do Rui Pedro Mendonça
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"Discurso D. Filmena em Fátima
Bom dia, Sou uma mãe que hoje aqui em Fátima junto da Nª Srª e de tantas pessoas amigas unidas, procura, pelo seu testemunho, representar as crianças portuguesas desaparecidas.
Sou a mãe do Rui Pedro.De um filho amado que desapareceu há quase nove anos e meio.Mesmo que eu fosse capaz de dizer por palavras o sofrimento que transporto, não chegavam todas as que existem.Nas entranhas da minha alma o desaparecimento do meu filho transportou-me para uma mistura de dor infinita, de impotência injusta, de absurdo absoluto, de desespero incontido.
Sou mãe. E como mãe , não perdi a esperança que me mantém viva.E como crente tenho fé. E na fé busco as forças daquela esperança.E na esperança, procuro o alento para, na vulnerabilidade do meu ser sofrido, acreditar que, apesar de um mundo atordoado pelo mal, pela indiferença, pelo egoísmo, pela cultura da morte e da indignidade, o meu filho virá ao meu encontro abraçar-me e dizer-me como uma criança que já não é, " Mãe, amo-te".
No vazio da ausência esventrada, no absurdo de um mal infinito nada pode dissolver na minha mente e no meu coração.É um sofrimento
que não tem medida por a ter demais.Porque é invasivo até à mais profunda e ínfima fracção da minha natureza e da minha condição humana.Porque é corrosivo nos mais recônditos poros da minha alma e da sensibilidade.Porque não tem intervalos no imaginário da felicidade interrompida e da perfídia contra a inocência e a pureza.Porque é destrutivo apesar da esperança que não se desvanece.Porque o futuro parece não ter lugar para além da memória do passado e da inquietude opressiva do presente.E como dizia Pascal "Tudo o que é incompreensível, nem por isso deixa de existir".
Perante tudo isto, todos os dias, todos estes 3400 dias em que o Rui Pedro não me tem dito "até amanhã, Mãe", choro mesmo que sem lágrimas e em silêncio interior que é onde encontro, na minha memória dilacerada e na minha luta pela esperança de que jamais desistirei.
Todos quanto me escutam aqui, sabem que os filhos são a garantia da nossa eternidade.Pela sua presença ou pela sua ausência, é do respeito pela vida e pela família que se trata e é, também, pelas pessoas boas que procuramos a força e o alento no cruzamento dos corações.
Foi com esta ideia da Esperança, do sentimento do amor e da construção da solidariedade que decidimos constituir uma Associação que una todas as pessoas que possam dar o seu contributo para os fins que presidiram à sua criação :a ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DAS CRIANÇAS DESAPARECIDAS. "
Filomena Teixeira.(discurso lido em Fátima, no dia 27/07/2007, no salão Bom Pastor, no Centro Pastoral Paulo VI, perante 200 pessoas de várias nacionalidades)